quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O IRMÃO MAIS VELHO - Lucas 15:25-32 (NVI)

“O evangelho de Lucas é o livro mais longo do Novo Testamento e inclui boa quantidade de informações não encontradas em outros textos”. [1] Lucas, após uma cuidadosa investigação das fontes (Lc 1.1-4), insere a parábola do Filho Pródigo entre os seus escritos, no mesmo contexto da parábola da ovelha e da moeda perdidas. Alguns temas são evidentes nessa série de perícopes: alegria por achar o que estava perdido, esforço em buscar o perdido (Graça), restauração e arrependimento. Veremos algumas implicações teológicas no irmão mais velho do pródigo, desencadeadas pela volta inesperada do seu irmão à casa do pai.
Kenneth Bailey cita Jones: “A parábola a respeito do filho pródigo não é primordialmente a respeito de um rapaz extravagante, mas a respeito de um relacionamento entre Deus e o pecador, e aquele que se julga justo”. [2]
Algumas reações do filho mais velho, quando soube da festa pelo retorno do seu irmão pródigo: “Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando se aproximou da casa, ouviu a música e a dança [...] o filho mais velho encheu-se de ira e não quis entrar” (vs. 25 e 28a).
Sua primeira reação foi irar-se e recusar-se a entrar na festa. O filho mais velho insulta publicamente seu pai de uma maneira profunda. O seu lugar era ao lado do pai, ajudando-o a servir os convivas, como um bom anfitrião oriental. Seu pai sai da festa, obviamente constrangido, e de uma maneira reconciliadora, insiste para que o filho entre e se alegre com a comunidade. (v. 28b). Mais uma vez, o irmão mais velho, nas suas palavras, deixa transparecer seu coração de escravo: “Olha! Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço...” e a sua justiça própria:” e nunca desobedeci às tuas ordens”.
Outra frase reveladora: “... tu nunca me deste nem um cabrito...” Implicitamente, ele diz que merecia um novilho pelos anos de serviço prestados na casa do pai. “... para eu festejar com os meus amigos”. “O filho mais velho se havia excluído da comunhão de sua família [...] os amigos do filho mais velho não incluem o seu irmão, nem seu pai, nem os hóspedes da família.” [3]
Mesmo sabendo da reconciliação do seu irmão menor e do seu pai, lembra dos erros do pródigo no passado, tentando talvez persuadir seu pai de que seu irmão não é digno da festa. Ou, deixando claro que os bens e a fazenda são seus, pois seu irmão já esbanjou a parte dele. Dessa forma ele deseja talvez a morte de seu pai, a fim de dispor de todos os bens para si.
“Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado”.

Citando Bailey novamente:

“Ternamente o pai faz o filho mais velho lembrar que este é seu irmão. Ambos são rebeldes. Ambos partem o coração do pai. Ambos acabam em um país distante: um fisicamente, o outro espiritualmente. O mesmo amor inesperado é demonstrado em humilhação, a ambos. [...] O pai sai e encontra ambos os filhos. Um entende e aceita a condição de achado. O outro [...] não aceita e continua perdido. [4]

O filho mais velho não tem o perdido como seu irmão e não se alegra com o seu retorno para o lar. A festa pelo retorno do pródigo não era a sua festa. A alegria do pai não era a sua. Um distanciamento fica claro aqui, bem como um ambiente de disputa pelos benefícios provenientes das mãos do pai.
Podemos vislumbrar nesta parábola o amor sofredor de Deus, na sua insistência em reconciliar-se com o homem e Sua alegria festiva na restauração do perdido. Observa-se reações diferentes, frente a esse amor, em todas as épocas: muitos são resgatados da morte para a vida, como filhos. Outros, porém, insistem em permanecer como escravos, mesmo prestando serviços por anos, dentro da casa do Pai...

O desfecho com o filho mais velho fica aberto... a decisão é individual.

texto de Mario Gonçalves
Estudante de Teologia
E-mail: mario_teclado@hotmail.com
Telefone: (47) 3466-7150.
Joinville – SC

[1] CARSON, D. A. Introdução ao novo testamento / D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; tradução Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova. 1997. p. 123.
[2] BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. 3 ed. São Paulo: Vida Nova. 1995. p. 208.
[3] BAILEY, Kenneth. 1995. p. 244.
[4] BAILEY, Kenneth. 1995. p. 248.